Durante a Semana Universitária, minicurso do Departamento de Música apresenta cultura do heavy metal para leigos e fãs do gênero

Professor do Departamento de Música Hugo Ribeiro tem o heavy metal como objeto de pesquisa. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

 

O minicurso de Heavy Metal para Iniciantes está entre as atrações mais curiosas da programação da Semana Universitária 2018. Ministrada no Departamento de Música (MUS) da UnB diariamente, das 9h às 12h, até sexta-feira (28), a atividade tem atraído e agradado o público interessado na história do rock.

 

Como a proposta do curso era introduzir leigos à cultura do metal, a Secretaria de Comunicação da UnB deu a uma repórter nada familiarizada com o tema o desafio de acompanhar um dia da programação e traduzir essa experiência musical em texto. Estava claro que a missão, literalmente, não seria leve. Então, resolvi subverter também os padrões jornalísticos e contar em primeira pessoa como foi participar da atividade.

 

Ainda do lado de fora da sala onde seria o encontro, o público já não me parecia assim tão leigo na cultura do metal. A maioria das pessoas estava caracterizada com roupas pretas, estampadas com nomes de bandas. Muitos tinham o cabelo longo, tatuagens e outros elementos característicos do universo heavy metal. Estereótipos à parte, pensei: estou no lugar certo.

 

Abordei um rapaz aleatoriamente e perguntei se ele participaria do minicurso. Meu faro jornalístico foi certeiro e o entrevistado, Marcelo Duarte, era um dos monitores da atividade. “O objetivo é explicar as origens, características e ramificações do gênero, apresentando bandas e músicas que vão desde a origem do rock até chegar ao heavy metal”, detalhou o estudante de bacharelado em Música com habilitação em Violoncelo.

 

Me senti mais à vontade quando Marcelo reiterou que o foco da atividade era mesmo aproximar o público leigo à cultura do metal e mostrar que o heavy metal é objeto de estudo no meio acadêmico. Enquanto o professor que ministraria a atividade não chegava, o monitor me explicou a dinâmica da aula, que envolve duas horas de audição ininterruptas de várias músicas. 

Heavy Metal para Iniciantes reúne curiosos e fãs do rock pesado na Semana Universitária. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

 

Ao fim dos cinco dias da Semana Universitária, cerca de 50 artistas terão sido apresentados, agrupados em subgêneros. As peças musicais são acompanhadas de slides explicativos sobre a banda, a música, o contexto e outras curiosidades. Depois, a turma tem uma hora para discutir as características musicais e extramusicais da seleção mostrada no encontro.

 

“No primeiro dia, por exemplo, fizemos uma retrospectiva histórica sobre o blues, rock e hard rock. No debate, falamos um pouco sobre como o gênero surgiu, das tecnologias de gravação de cada época, da formação musical dos artistas, da influência norte-americana na Europa e vice-versa, além dos aspectos sociais da música”, lembrou Marcelo Duarte.

 

Quando chegou o professor Hugo Ribeiro, coordenador do minicurso, fomos até ele. Fiz da entrevista uma oportunidade para entender mais sobre a proposta. O docente contou que participa ativamente da cena do metal desde criança, mas a abordagem do tema como pesquisa veio muitos anos depois, em seu doutorado

 

“Principalmente no Brasil, há certa resistência da academia em relação à cultura metal. Muitos acham que é algo muito fácil, barulho que se aprende na rua. Esses e outros preconceitos vão se perpetuando”, comentou o professor. Ele trabalha com 'a pegada' rock no Departamento de Música. Todo semestre, monta com os alunos da disciplina Prática de Conjunto um álbum de rock ou de heavy metal. “A primeira apresentação, no Anfiteatro 9, foi o The Dark Side of the Moon, do Pink Floyd. O auditório ficou lotado, um sucesso. Também fizemos Queen, Megadeth, Death e esse semestre estamos trabalhando com Pitty.” 

 

Essa é a primeira vez que o professor monta um curso especificamente voltado ao heavy metal. A ideia é que ele sirva de laboratório para outras experiências. “Pode ser uma disciplina optativa, um projeto de extensão contínuo, ainda não decidi. Quero um espaço para abordar a história do rock. Do blues ao black metal”, resumiu.

 

Sobre a dinâmica dos encontros, Hugo Ribeiro afirmou que guiar a audição do público é o elemento mais importante da experiência. “Mostrar para as pessoas como e o que ouvir, e deixar que elas apreciem. Apresentaremos estilos, despertaremos a atenção para determinados elementos musicais. Contaremos histórias sobre as letras, temáticas e contextos”. Três monitores ajudaram o professor na preparação do material e na seleção e apresentação das músicas para a turma.

Para os estudantes Laura Lopes e Marcelo Duarte, essa está sendo a semana do heavy metal. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

 

Começa o curso. O que ouço e vejo a seguir são duas horas com 64 músicas, 28 artistas, muitos balanços de cabeça, simulações de baterias, solos de guitarras imaginárias e vários momentos de êxtase coletivo. Foi assim na música do vídeo abaixo, que os alunos cantaram do início ao fim. Sinais como esses provam que os iniciados na cultura do metal gostaram do conteúdo apresentado. 

 

“Sou fã de heavy metal há algum tempo e quando vi o curso na programação da Semana Universitária, me inscrevi. Achei maravilhoso, diferente e me representa. Conhecia muitas músicas e tocou minha banda preferida, Black Sabbath. Mas também descobri muita coisa nova”, declarou Laura Lopes, estudante do curso de Teoria Crítica e História da Arte.

 

Como minha posição de quase leiga no tema já está devidamente assumida, prefiro deixar que os especialistas guiem essa audição. O roteiro dos encontros e os slides apresentados estão sendo disponibilizados no site do professor Hugo Ribeiro à medida em que as aulas são apresentadas. Para quem está curioso em saber o que eu achei da experiência: curti! Foi uma das pautas mais divertidas que já acompanhei.

 

Nesta quinta-feira (27), tem Metallica e Sepultura. Na sexta (28), destaque para o gótico e para as mulheres no metal. Apenas aqueles já inscritos pelo Sistema de Extensão (Siex) receberão certificados de participação no minicurso, mas os encontros são abertos ao público em geral.

 

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