Bate-papo promovido pelo DEX em comemoração ao mês da mulher trouxe ativistas feministas de diversas áreas à UnB

Evento do DEX reuniu mulheres que impactam seus espaços de atuação, cada uma a seu modo. Foto: Audrey Luiza/Secom UnB

 

“Sou resultado de tantas outras mulheres que transformaram o mundo.” A declaração de Ana Flávia Magalhães Pinto, professora do Departamento de História da UnB, deu o tom do evento Mulheres que transformam, promovido pelo Decanato de Extensão (DEX). 

O encontro aconteceu nesta quinta-feira (21), em um anfiteatro 9 repleto. Ana Flávia homenageou Marielle Franco e Makota Valdina, educadora e líder religiosa do candomblé que morreu nesta semana. Ana destacou a atuação de mulheres que formam e transformam, como Conceição Evaristo, Vera Lopes, Lúcia Xavier e Sueli Carneiro.

“Ter a oportunidade de dialogar com mulheres com trajetórias tão ricas é fundamental para que a gente se posicione nesse mundo, na perspectiva de transformá-lo em um lugar com igualdade de direitos”, declarou Olgamir Amancia, decana de Extensão da UnB.

Um das convidadas, Gina Vieira, criadora do projeto Mulheres Inspiradoras, apresentou os pais, Moisés e Djanira, que acreditavam no poder da educação e resistiram à prática, muito comum, de tirar meninas da escola para que pudessem ajudar no sustento da família. “Eles diziam que mesmo que a gente passasse fome não ia deixar de ter o direito de estudar.”

Como estudante, Gina foi profundamente marcada pelo racismo, mas teve a sorte de conviver com uma professora negra que olhou para além das suas dificuldades de aprendizagem. Por influência de Creuza, decidiu ser professora, e se formou aos 17 na Escola Normal de Ceilândia. Gina escolheu trabalhar ali mesmo, mas se assustou ao perceber que os adolescentes não gostavam da escola. Apreciavam a socialização que o local proporcionava, mas não as metodologias utilizadas.

Professora Gina Vieira compartilhou o processo de ressignificação do ambiente escolar que liderou em Ceilândia. Foto: Audrey Luiza/Secom UnB

“Fui tomada por um sentimento de impotência”, contou. “Por que os nossos jovens viram as costas pra escola? A resposta que encontrei foi que, primeiro, a escola vira as costas. Temos um modelo de educação excludente e conservador baseado na repetição e cópia. Tive que me reinventar como educadora”, disse.

Decidiu mudar o referencial de mulheres objetificadas e sexualizadas apresentadas pela mídia. Para isso, criou um projeto com a recomendação da leitura de obras escritas por mulheres, como Quarto de despejo, de Carolina de Jesus, O diário de Anne Frank, e livros da escritora Cristiane Sobral. Também apresentou a biografia de grandes mulheres como Cora Coralina, Rosa Parks, Maria da Penha e Nise da Silveira.

Mas, para ela, não bastava falar de grandes mulheres. Então, propôs aos estudantes que conhecessem lideranças da comunidade – como sua professora Creuza – e que escolhessem uma mulher da sua vida para entrevistar. A maioria escolheu mães, avós e bisavós.

Os alunos deveriam escrever um texto autoral, para que fossem trabalhadas questões como coesão, coerência e estrutura textual, mas Gina não estava preparada para encontrar mais do que isso. “Eles voltaram com o olho brilhando, dizendo: 'Descobri que minha mãe é muito mais inspiradora do que eu pensava!'.” 

Com o trabalho exposto nas redes sociais, Gina recebeu a sugestão de inscrever o projeto no 4º Prêmio Nacional de Educação e Direitos Humanos. Foi o primeiro de diversos prêmios recebidos, entre eles o 1º Prêmio Ibero-Americano de Educação em Direitos Humanos, com cerimônia realizada na Colômbia.

Anfiteatro 9 estava lotado para ouvir depoimentos de mulheres que transformam. Foto: Audrey Luiza/Secom UnB

No total, foram mais de R$ 100 mil levados para o Centro de Ensino Fundamental 12, de Ceilândia. Hoje, o projeto Mulheres Inspiradoras é uma política pública do governo do Distrito Federal, realizada em 46 escolas do DF. “Lutamos pelo fortalecimento da escola pública e ressignificação do ambiente escolar como espaço laico, plural e diverso”, enfatizou Gina.

Lola Aronovich, ativista feminista digital, falou sobre a criação do Escreva Lola Escreva, um dos maiores blogs feministas do país desde 2008. Ela conta que sempre lidou com trolls e haters, mas, depois de alguns anos, teve que começar a moderar comentários. Desde então, a atuação de blogs e fóruns de ódio contra ela e outras personalidades, como Jean Wyllys, ficou mais forte.

“Para quem é antifeminista, qualquer feminista é uma feminista radical, então eu sou considerada super extremista”, disse, quando contava sobre as ameaças que sofre há anos. Tudo isso levou à criação da Lei n. 13.642/18, de autoria da deputada federal Luizianne Lins. 

Conhecida como Lei Lola, atribui à Polícia Federal a investigação de crimes cibernéticos de misoginia. Para ela, o desafio é tornar a legislação conhecida. “Não podemos nos calar, temos que continuar lutando. O silêncio não nos protege”, afirmou a convidada.

Na Palestina até a semana passada, Sabrina Fernandes falou de mulheres com quem conversou em sua viagem para a produção de um documentário. Sabrina é doutora em Sociologia pela Universidade Carleton, do Canadá, e professora do Departamento de Sociologia da UnB. Também é criadora do canal Tese Onze, no Youtube.

 

Sabrina falou de mulheres como Maysam, uma jovem ativista de 15 anos, e Islam, moradora de um campo de refugiados. Islam tem um filho deficiente e encontrou em sua vizinhança várias crianças com outras deficiências. A partir disso, criou uma escola em espaço cedido por uma ONG. Ali ela faz questão de empregar mulheres.


"Na Palestina existem várias mulheres como Islam e Maysam, que se identificam como feministas, lutam por seus direitos e sabem que esses muros precisam ser derrubados”, disse Sabrina. O evento foi transmitido ao vivo no Facebook da UnBTV, onde é possível assistir a íntegra.

 

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