Evento teve participação de diversas entidades educacionais. MEC não enviou representante

Representantes de entidades reuniram-se na Universidade de Brasília para debater o Future-se. Foto: André Gomes/Secom UnB

 

Com a proposta do governo federal de flexibilizar o financiamento do ensino superior, a UnB realizou nesta quarta (28) o debate Rumos das universidades públicas: autonomia universitária e financiamento público das instituições de ensino superior. O evento foi promovido pelo Decanato de Extensão (DEX) da Universidade.

 

O projeto do governo, nomeado Future-se, encerrou o prazo de consulta pública nesta quinta (29), e recebeu mais 20 mil comentários sobre pontos específicos da proposta, de acordo com o Ministério da Educação (MEC). 

 

O evento contou com a participação de representantes de algumas entidades, como a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), a Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB) e o Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif). Convidado, o Ministério da Educação (MEC) não enviou representantes.

 

A mediadora do evento, professora Neuma Brilhante (UnB) destacou a importância de ampliar o debate sobre o Future-se. Ela participou da comissão que realizou a análise técnica do Projeto de Lei na UnB. "Quais respostas podemos dar? Não pode ser só reação, também temos que ser propositivos", disse.

Professora Neuma Brilhante fez parte da comissão que avaliou a proposta do Future-se na UnB. Foto: André Gomes/Secom UnB

 

Secretário-geral da ADUnB, Cláudio Lorenzo alertou para o perigo de perda de autonomia financeira e científica das universidades públicas. "O texto não é claro, deixa possibilidade de que as atividades-fim possam ser feitas pelas organizações sociais." O professor também questionou a situação atual do CNPq: "Quem quer estimular a ciência e a tecnologia corta bolsas?".

 

Iago Montalvão, estudante de Economia na Universidade de São Paulo (USP) e presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) disse que o maior problema do Future-se é ter sido elaborado sem a participação das comunidades acadêmicas. 

 

Ele acusou o projeto de ser construído visando setores externos que querem tirar ganhos das universidades. "Que tipo de investimento pode gerar tecnologia se mais de 90% das pesquisas são feitas nas universidades? É um contrassenso."

 

Professora de Economia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Esther Dweck explicou que a EC/95 causou uma mudança sistemática no orçamento brasileiro, com a austeridade imposta pela norma impactando a educação superior e gerando retrocessos. 

 

Entre 2011 e 2016, Dweck atuou no Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, no cargo de Chefe da Assessoria Econômica e como Secretária de Orçamento Federal. Ela demonstrou, em sua apresentação, que os gastos com ensino superior no Brasil, em relação ao PIB, ficam bem atrás do que é gasto em vários países ricos. “Não se faz ciência sem financiamento público.”

Secretário executivo da Andifes, Gustavo Balduíno defendeu o estímulo aos debates sobre o Future-se. Foto: André Gomes/Secom UnB

 

O Secretário executivo da Andifes, Gustavo Balduíno, trouxe pontos expostos na Carta de Vitória, divulgada pela entidade. Ele afirmou ser importante estimular o debate nas universidades.

 

“O governo não está discutindo uma política nacional de educação, estão discutindo como reduzir o orçamento. O problema não é fiscal, é de modelo de desenvolvimento”, avaliou.

 

Reitor do Instituto Federal do Tocantins (IFTO), Antônio da Luz Júnior representou o Conif no debate. Ele contou que está mobilizando as comunidades externa e interna das instituições para debater o projeto.

 

“Queremos que o que for ponderado por nossas instituições seja realmente levado em conta na construção do projeto. Sem isso não há legitimidade”, decretou.

 

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