Viúva do educador, Nita Freire é convidada especial da mesa que acontece nesta sexta (1º), às 16h

 

Tema da 21ª Semana Universitária da Universidade de Brasília, o centenário de Paulo Freire foi comemorado em 19 de setembro. Para refletir sobre a importância do legado do educador, a mesa de encerramento da Semuni terá uma convidada especial: Nita Freire, viúva do patrono da educação brasileira. O evento será realizado na sexta-feira (1º), das 16h às 18h, e também contará com a presença do professor Luis Carlos de Menezes (USP). Assista ao vivo no canal da UnBTV no YouTube.

 

Os convidados devem discutir quais contribuições o pensamento do autor de clássicos como Pedagogia do Oprimido e Extensão ou Comunicação? pode trazer para a gestão e as metodologias da educação brasileira hoje.

 

Freire foi investigado, preso e exilado pela ditadura militar. O Programa Nacional de Alfabetização, idealizado e coordenado por ele, não chegou a ser implementado. A iniciativa, que tinha a meta de alfabetizar ainda naquele ano 1,8 milhão de brasileiros, foi extinta pouco após o golpe militar de 1964.

 

Depois de tantos anos, o educador mantém sua centralidade no debate educacional. “O legado de Paulo Freire é muito mais celebrado do que atacado, no exterior e no Brasil também. Recentemente, a ignorância, que é uma face dos processos políticos excludentes, a má fé e a desonestidade intelectual de muitos que ganham espaço de voz na atual voga autoritária têm tentado detratar a figura de Freire. Mas ela é muito maior do que essa perspectiva mesquinha da realidade. Os brasileiros precisam se orgulhar de Paulo Freire, porque ele é um pensador que nos ensina que o futuro é parte da história, que é transformável pela ação consciente da humanidade”, analisa o professor Alexandre Pilati, diretor técnico de Extensão da UnB.

Paulo Freire e Nita Freire, lado a lado. Viúva do patrono da educação brasileira encerra a Semana Universitária 2021 com palestra. Foto: Arquivo pessoal Nita Freire

 

“Portanto, Freire nos ensina sempre que o devir é uma disputa. Ensina-nos também que a conquista de um mundo melhor, de uma sociedade emancipada, depende de uma educação libertadora, capaz de indicar a todos que o humano é a centralidade e a razão de qualquer processo social e que portanto, os conteúdos ensinados em sala de aula precisam ser ressignificados pela sua vinculação com os processos políticos que caracterizam as interações entre as diversas classes sociais”, complementa.

 

Doutora em Educação pela PUC-SP, Nita Freire recebeu de Paulo a missão de dar continuidade ao seu legado: o seu testamento passou a ela os direitos de suas obras. Eles se casaram em 1988, e desde a morte de Paulo Freire, em 1997, ela é responsável por sua obra.

 

“Nita Freire é importante para a continuidade do legado de Paulo Freire, em primeiro lugar, porque realiza uma máxima do pensamento freireano, que é o desenvolvimento permanente de uma consciência crítica, transformadora, emancipadora e autônoma. Sendo uma educadora de destaque no país, com obras tais como Analfabetismo no Brasil, ela segue o legado de Paulo Freire também como uma intelectual pública, sempre em defesa da educação pública, gratuita e de qualidade e dos educadores do país”, avalia Pilati.

 

Luis Carlos de Menezes é doutor em Física pela Universidade de Ratisbona, na Alemanha, professor do Instituto de Física e membro da Coordenação da Cátedra de Educação Básica do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP). Também é consultor da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) para propostas curriculares.

 

Os convidados também devem defender os principais conceitos do autor no momento em que a ciência, a arte e a cultura sofrem ataques baseados no negacionismo.

 

“Aspectos da obra de Paulo Freire que vão na contramão da ideologia do capitalismo contemporâneo são aqueles que se mantém mais atuais e podem ser resumidos, a meu ver, em algumas expressões: pedagogia do oprimido, pedagogia da autonomia e capacidade de trabalhar pela esperança. Todas essas expressões, quando orientam processos educativos, são atuais pela sua capacidade de promoverem o horizonte de um mundo mais justo”, diz Pilati.

 

Para ele, o momento pós-pandemia vai demandar uma rediscussão de projetos para o futuro. “Uma pedagogia da amorosidade e da boniteza da vida é insubstituível nesse contexto pandêmico, pois é capaz de fazer com que as novas gerações possam pensar um mundo que sirva à humanidade e à humanização e não um mundo que seja exaurido pela exploração excludente de um pequeno grupo de detentores do poder econômico. A educação, em sentido freireano, nos dá as ferramentas necessárias à transformação do mundo”, conclui o professor, que tem atuado em diversas ações ao longo da Semana Universitária.

 

Registro histórico de homenagem a Paulo Freire em 1992, quando a Organização dos Estados Americanos (OEA), por indicação da UnB, concedeu a ele o prêmio Andres Bello de Educador do Continente. No centro, o ex-reitor da UnB Antônio Ibañez e Paulo Freire. Foto: Arquivo pessoal de Antônio Ibañez Ruiz

 

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